quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Artigo de Opinião: A Revitalização sem Informação

O processo de desapropriação da Lagoa Olho D'água está acontecendo da pior forma possível. Funcionários do Estado (alguns terceirizados) chegam até as famílias, marcam as residências sem critério aparente, dizem que as pessoas vão sair em breve, não prestam informações sólidas e detalhadas e, em seguida, vão embora, como se estivessem tratando com meros objetos. Para os moradores, fica o medo, a falta de informação, o sentimento de impotência e injustiça diante da situação.

Há 3 anos venho lutando através do blog para poder vivenciar o momento em que a lagoa será recuperada. Ver a maior lagoa de restinga em área urbana do Brasil revitalizada, sem poluição e organizada é o meu maior sonho. Contudo, não é ético a maneira pela qual o processo está sendo conduzido pelo Estado. Nem os mais esclarecidos como eu, conhecem detalhadamente esse projeto, seus prazos e como será executado. Imagine a população mais carente? É a revitalização sem informação!

O ano passado tentei, junto com outras movimentos sociais, levar a CEHAB para discutir o projeto com a população, através da realização do I Fórum Sobre a Revitalização da Lagoa Olho D'água. A tentativa fracassou, pois a CEHAB, apesar de ter garantido que participaria, não compareceu ao evento.

Revitalizar a lagoa é uma prioridade. Mas não podemos esquecer que durante 50 anos o local foi sendo habitado de forma irregular, muitas vezes com o aval de políticos populistas. Hoje, na Lagoa Olho D'água, vivem milhares de pessoas em situação de risco, sem nenhuma infra-estrutura, mas que com o suor do seu trabalho, conseguiram erguer suas casas, muitas de boa qualidade, com valor além de um simples apartamento social do Estado.

Essas pessoas sabem que moram em local invadido. Foi a única opção que restou para elas. Mesmo assim, sonham em ficar no lugar onde construíram suas vidas. Desejam que sua comunidade melhore e que possam permanecer, afinal, quem gosta de viver na lama eternamente?

Agora, todos estão diante da ameaça de terem seu único bem demolido, sem que haja nenhum diálogo, sem maiores esclarecimentos. Esses indivíduos estão tendo sua identidade roubada, sua história enterrada entre os escombros, sem compaixão.

Um processo como esse tem que ser conduzido com diálogo e transparência. Não é ético, muito menos legal, tratar as pessoas como se elas não merecessem estar conscientes de todo o processo. Me pergunto: onde estão os 6 milhões (5% do valor total da obra) que devem ser destinados a área social? Onde estão os psicólogos, educadores e assistentes sociais para acompanhar o processo e auxiliar os moradores prestando assistência contínua?

Deixo a reflexão e semana que vem estarei buscando essas e mais respostas junto ao Governo do Estado. Revitalizar a lagoa é importante, mas não podemos esquecer que lá vivem serem humanos que também merecem respeito e consideração.



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