Imagens por Eduardo Cordeiro
Habitar a Rua Esperança sempre foi sinônimo de desilusão. Localizada nas margens da Lagoa Olho D'água (em Candeias), de esperança a rua traz somente o nome. No local, que foi invadido há mais de 20 anos com a "autorização" de políticos populistas, não existe nenhuma infra-estrutura e os moradores precisam dividir espaço com o lixo e o esgoto, que corre a céu aberto até desembocar na lagoa. A área é de proteção ambiental e com a revitalização prevista para esse ano, os moradores do local passaram a viver um dilema: uns desejam ir embora, outros querem permanecer no local, apesar de todas as dificuldades.
A dona de casa, Andréa Mônica (37), que mora há 10 anos numa modesta casa bem perto da lagoa é uma das moradoras que pretende lutar para ficar. Quando soube que a CEHAB (Companhia Estadual de Habitação) estava cadastrando os moradores para retirá-los ela disse ter ficado apreensiva - "Eles chegaram, pediram a documentação, fizeram umas anotações e disseram que agente iria sair daqui, pois a lagoa seria revitalizada. Em seguida, marcaram a porta da minha casa com um adesivo e falaram que entrariam em contato. Perguntei para onde iria e eles me disseram que o governo estava construindo umas casas lá em Cajueiro Seco. Como assim? A Minha vida é aqui, não lá" - desabafou em tom de decepção.
Enquanto eu conversava com Andréa, um outro morador apareceu e pediu para falar. O porteiro Evaristo Paulo (32) também faz parte dos inconformados em sair do lugar. "Moro aqui há mais de 10 anos. Comprei um terreno e construir. Minha casa é boa, passei a vida trabalhando para levantá-la e agora vou ver meu sonho desabando. Não é porque eles têm dinheiro que podem tirar agente daqui sem mais nem menos! Não é justo quererem nos dar uma casinha de qualquer jeito. Vivemos todo esse tempo aqui sem nada e agora que a lagoa vai ficar boa querem que agente vá embora. Isso não é justo!" - protestou.
O predreiro José Agnaldo (38), também não quer sair da lagoa- "Chegaram, tiraram fotos, mediram tudo, pegaram meu nome, RG e foram embora. Eu não queria sair daqui. Queria que o lugar melhorasse, mas que agente ficasse aqui. Quem tem casa de tábua está querendo sair, mas nós que construímos nossa casinha de tijolo, temos o nosso espaço, queremos ficar" .
Andando um pouco mais e conversando com vários moradores da comunidade percebi que o sentimento que predominava entre a maioria era o de permanecer no local. As casas foram erguidas em área de proteção ambiental, mas o problema é mais que ecológico. Existe um grave problema social. Demolir essas casas sem diálogo e negociação, causará danos emocionais irreparáveis, pois os moradores construíram sonhos e relações de solidariedade e amizade que em breve serão destruídos junto com suas moradias e histórias de vida.
O psicólogo William Bonnet explica que existe uma relação muito intensa dessas pessoas com o lugar - "Não se trata apenas de uma casa. Ao longo dos anos as pessoas construíram relações inter-pessoais. Numa comunidade carente existe um espírito de solidariedade muito forte. Os indivíduos compartilham as dificuldades do dia-a-dia e se ajudam mutuamente. A possibilidade de mudança para um lugar desconhecido faz com que esses cidadãos se sintam inseguros. É como se uma parte da vida deles estivesse sendo roubada" - explica.
É exatamente assim que se sente Maria Rita, de 60 anos. Morando na Comunidade Buenos Aires há mais 20 anos, a aposentada tem graves problemas de saúde. Conversei com a sua vizinha, Jacileide David (33), pois Maria Rita não tem condições emocionais para falar sobre o assunto. Jacileide me contou que quando Maria Rita ficou sabendo que sua casa seria derrubada entrou em estado de choque e precisou ser hospitalizada. "Viver tanto tempo num local, com uma comunidade tão unida e ter que sair. Apesar de todas as dificuldades, já nos apegamos uns aos outros. Se sairmos daqui não sei como vai ser. Haverá uma separação enorme." - lamenta.
Desde o início dessa semana, o Blog tentou contato através de e-mail com a Assessoria de Imprensa da CEHAB, pedindo esclarecimentos sobre o cadastramento e desapropriação da lagoa. Mas até a publicação desse post não obtive qualquer resposta. Apenas hoje consegui falar por telefone com Amaro João, Diretor Presidente da CEHAB. Ele foi muito gentil e se comprometeu a falar com o blog e com alguns moradores na próxima semana, numa reunião em seu gabinete.
Obrigado ao meu amigo Eduardo Cordeiro, que me acompanhou nessa visita e vem sempre apoiando o trabalho desenvolvido pelo blog.
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2 comentários:
O Assunto e muito delicado de um lado concordo com a desapropiacao ja que esta em local irregular, de outro lado a prefeitura precisa dar uma moradia digna. ou uma boa recompensa pela saida da mesma.
assunto complicado
o assunto realmente e complicado mas,acho que 85% dos moradores desejão sai da li pois quando chove alaga toda comunidade as casa enche os moradores carente perdem o pouco que tem e isso acontece a todo inverno e com a desapropriação do local os moradores sonha com uma vida melhor com moradia digna.
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