Jaboatão: sem saneamento, crianças da Lagoa Olho D'água são expostas a doenças

Esquistossomose, diarréias, leptospisrose e doenças de pele são cada dia mais frequentes na realidade de várias comunidades da lagoa 

 

Menina de 11 anos mostra ferida no pé após contágio com água contaminada em comunidade da Lagoa olho D'água. Ela é aluna da Escola Municipal Raquel Gomes e precisa pisar no esgoto para chegar na escola

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A falta de saneamento básico em Jaboatão prejudica principalmente as crianças. Casos de verminoses, diarréia, esquistossomose,  filariose, leptospirose e doenças de pele são freqüentes, principalmente nas comunidades que margeiam a Lagoa Olho D'água.

Na comunidade do Sovaco da Cobra, bem pertinho da lagoa, é difícil encontrar alguém que não tenha um parente ou amigo que não esteja contaminado por Schistosoma, doença que tem como hospedeiro o caramujo e pode causar problemas graves no fígado e no baço, levando o indivíduo à morte - "Na minha casa, todo mundo já teve Schistosoma. Perdi um irmão recentemente com a doença e outros dois parentes estão doentes. Aqui no Suvaco da Cobra, quase todo mundo tem essa doença - desabafa a dona de casa Rosângela Maria. 

A comunidade do Suvaco da Cobra está numa área problemática de Jaboatão. Nas margens da lagoa, em área sujeita a alagamentos, a populosa comunidade não possui qualquer infraestrutura. O esgoto corre a céu aberto e serviços essenciais são negligenciados ou ineficientes. Quando chove, a lagoa transborda e toda comunidade fica alagada, expondo os moradores a contaminação por diversas doenças. E as crianças são as maiores prejudicadas.

Num giro rápido que o nosso blog fez pela comunidade ontem pela manhã, ouvir relatos de várias crianças que atualmente estão fazendo o tratamento para se curar da esquistossomose. Outras estão com diarréia ou internadas. Mas o que mais me chocou foi encontrar com uma garotinha de apenas 11 anos, com os pés feridos, após contágio com a água suja no último inverno.

Por questões obvias não vou falar o nome da menina, mas ela me contou que não tem como evitar pisar na lama e no esgoto - "Tenho que vir estudar e quando chove tudo fica alagado aqui no Suvaco. Eu e todo mundo que estuda aqui na Escola Raquel Gomes pisa na água. Não tem como agente evitar, mesmo nossa professora dizendo que é perigoso, que podemos adoecer" - diz a menina um pouco tímida, retirando os sapatos e me mostrando o pezinho ferido após contato com a água suja:

"Começou com uma coçeira depois que eu pisei na água, quando estava chovendo, tudo alagado. Depois o pé começou a ficar em carne viva. Dóia muito, não podia nem calçar os meus sapatos. Agora estou passando uma pomada e está melhorando" - conta otimista.

A pequena menina é apenas mais uma vítima da falta de saneamento na segunda maior cidade do Estado de Pernambuco, Jaboatão dos Guararapes. Pesquisas recentes divulgadas pelo Instituto Trata Brasil  colocam Jaboatão no ranking entre as 10 piores cidades em saneamento do Brasil. Hoje, Jaboatão possui apenas 8% do seu esgoto coletado e tratado. O restante  é depositado in natura no meio ambiente, num atentado aos nossos recursos naturais e a dignidade humana. 

Em 2008, o número de internações por diarréia em Jaboatão chegou a 219,7 para grupo de cada 100 mil habitantes. Entre as crianças, o número foi assustador: entre os anos de 2007 e 2008, 1856 crianças, de 0 a 5 anos de idade, foram internadas com problemas de diarréia.Tudo isso provocado pela falta de saneamento. E mais internações significa ainda mais gasto com saúde. 
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De acordo com o Datasus - Ministério da Saúde, em 2008, Jaboatão gastou mais de R$ 72 mil apenas com internações de pessoas que apresentavam sintomas de diarréia. Graças as essas internações, a taxa de mortalidade por diarréia diminuiu de 0,87% em 2007, para 0,38% em 2008. Isso significa que morrem cerca de 4 a 8 pessoas por ano no município em virtude de uma simples diarréia, a maioria são crianças. 
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Tanto essas mortes por diarréia, quanto a ferida nos pés da menina relatada neste post, quanto as centenas de casos de contaminação por esquistossomose, poderiam não existir se Jaboatão começasse a se esforçar um pouco mais, junto ao Governo do Estado, para mudar esta triste e lamentável realidade. Até o ano de 2020, o município promete que todo o seu território estará 100% saneado. Isso significa aumentar a taxa de saneamento cerca de 10% a cada ano, uma meta que muitos especialistas acham difícil ser atingida, já que ações básicas ainda não foram iniciadas.