Estimativa da Compesa é que serão necessários R$ 1 bi para recuperar a lagoa
A melancólica Lagoa do Náutico, em Jaboatão, é o trauma que
previne. Mostra que saneamento vai além de esgoto e cobra uma fatura
bilionária por isso. O tema encerra esta série de reportagens, com
textos de Giovanni Sandes e fotos de Guga Matos.
Mais do que parece
Textos Giovanni Sandes
Imagem: Jornal do Commercio
A verdadeira universalização do saneamento do Grande Recife,
mote da bilionária parceria público-privada (PPP) que o governo vai
licitar mês que vem, tem um grande obstáculo social. Sanear não é só
botar rede coletora e ligar imóveis a ela. Há um século já existia o
saneamento integrado, soma de esgotamento, fornecimento de água,
drenagem, pavimentação de ruas e habitação. A melancólica Lagoa Olho
D’Água, também chamada de Lagoa do Náutico, em Jaboatão dos
Guararapes, é a síntese do custo e da dificuldade da tarefa.
Recuperá-la da degradação vai exigir mais de R$ 1 bilhão.
Jaboatão, com 644 mil habitantes, é a segunda maior cidade do Grande Recife. Entre os municípios brasileiros acima de 300 mil habitantes, está entre os dez piores no saneamento, com uma cobertura de 7,6%. A lagoa é um caos dentro de outro. Sua lâmina de 3,6 quilômetros de água suja, duas vezes e meia a famosa Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, só reflete o acúmulo de falhas, como o erro histórico de jogar esgoto na rede de drenagem de chuvas.
Dejetos de 35 mil famílias de casas miseráveis ou populares do entorno, além de prédios da nobre orla de Jaboatão, seguem por oito canais até a lagoa, poluída também por resíduos sólidos – de lixo doméstico a carcaça de animais. Assoreamento, insetos e doenças há muito tomaram conta. De água limpa, só chuva, que vem e piora tudo. Joga animais para cima da população. “Tem tempo que chove tanto que a água fica na cintura. É muito rato, sapo, cobra”, reclama a aposentada Edite Rodrigues da Silva, 67 anos.
Segundo o presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Roberto Tavares, com o tempo a natureza entraria em equilíbrio, com o fim do despejo de esgoto, em função da PPP. Mas o cenário é mais complicado. Tanto que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), desde 2007, prevê R$ 116 milhões para o saneamento integrado da lagoa, com habitacionais para 1.376 famílias, incluindo o de Edite, inconformada com a demora.
Presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab), Nilton Mota diz que as 1.056 famílias restantes serão removidas até junho. A demora seria na elaboração de um Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), em finalização. “O PDLI vai detalhar a necessidade de esgotamento, dragagem, pavimentação, drenagem, de infraestrutura pesada à social. A estimativa é R$ 1 bilhão em obras”, diz Nilton.
O secretário de Planejamento de Jaboatão, Inaldo Campelo, arrisca um número maior, R$ 2 bilhões, mais que o dobro do previsto na PPP para toda a cidade, R$ 870 milhões. “A área passará a ser muito valorizada pelo mercado imobiliário, no futuro. Ela é muito bonita”, ressalta Inaldo.
Por enquanto, as pessoas querem sair de lá. Os estudantes Tainan Barbosa da Silva, 15 anos, e Ivaldo Alves, 14, moram a 500 metros da lagoa. Eles têm medo de pegar leptospirose e esquitossomose, mas por vezes enfrentam a podridão da época de chuva. “Quero ir para um lugar em que não tenha que passar por isso”, diz Ivaldo.
Jaboatão, com 644 mil habitantes, é a segunda maior cidade do Grande Recife. Entre os municípios brasileiros acima de 300 mil habitantes, está entre os dez piores no saneamento, com uma cobertura de 7,6%. A lagoa é um caos dentro de outro. Sua lâmina de 3,6 quilômetros de água suja, duas vezes e meia a famosa Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, só reflete o acúmulo de falhas, como o erro histórico de jogar esgoto na rede de drenagem de chuvas.
Dejetos de 35 mil famílias de casas miseráveis ou populares do entorno, além de prédios da nobre orla de Jaboatão, seguem por oito canais até a lagoa, poluída também por resíduos sólidos – de lixo doméstico a carcaça de animais. Assoreamento, insetos e doenças há muito tomaram conta. De água limpa, só chuva, que vem e piora tudo. Joga animais para cima da população. “Tem tempo que chove tanto que a água fica na cintura. É muito rato, sapo, cobra”, reclama a aposentada Edite Rodrigues da Silva, 67 anos.
Segundo o presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Roberto Tavares, com o tempo a natureza entraria em equilíbrio, com o fim do despejo de esgoto, em função da PPP. Mas o cenário é mais complicado. Tanto que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), desde 2007, prevê R$ 116 milhões para o saneamento integrado da lagoa, com habitacionais para 1.376 famílias, incluindo o de Edite, inconformada com a demora.
Presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab), Nilton Mota diz que as 1.056 famílias restantes serão removidas até junho. A demora seria na elaboração de um Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), em finalização. “O PDLI vai detalhar a necessidade de esgotamento, dragagem, pavimentação, drenagem, de infraestrutura pesada à social. A estimativa é R$ 1 bilhão em obras”, diz Nilton.
O secretário de Planejamento de Jaboatão, Inaldo Campelo, arrisca um número maior, R$ 2 bilhões, mais que o dobro do previsto na PPP para toda a cidade, R$ 870 milhões. “A área passará a ser muito valorizada pelo mercado imobiliário, no futuro. Ela é muito bonita”, ressalta Inaldo.
Por enquanto, as pessoas querem sair de lá. Os estudantes Tainan Barbosa da Silva, 15 anos, e Ivaldo Alves, 14, moram a 500 metros da lagoa. Eles têm medo de pegar leptospirose e esquitossomose, mas por vezes enfrentam a podridão da época de chuva. “Quero ir para um lugar em que não tenha que passar por isso”, diz Ivaldo.
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