quinta-feira, 9 de maio de 2013

Opinião: A crescente violência e diferenças sociais em Jaboatão

Apesar dos números oficiais não terem ainda sido divulgados, a população de Jaboatão vem percebendo um aumento relevante na violência. Assaltos, roubos de carros e até mesmo assassinatos tem sido relatados pela mídia (e moradores) com mais frequência, comparado aos anos anteriores de 2011 e 2012. E a população já começa a ficar preocupada.



No relatório do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, divulgado em março deste ano ano, Jaboatão apareceu na 80ª posição no ranking nacional em mortes por arma de fogo. O próprio secretário de defesa social do Estado, Wilson Damázio, manifestou publicamente a preocupação com o aumento da violência na cidade. Na ocasião, o secretário substituiu o comandante do Pacto Pela Vida na região e prometeu maior diálogo com o prefeito Elias Gomes no enfrentamento da violência. 



Ontem, um anuncio importante (mas não suficiente)  na área de segurança pública foi feito. O bairro de Guararapes, um dos mais violentos do município, ganhou reforço policial, num projeto intitulado Polícia Amiga. O programa promete atuar na prevenção dos crimes, não apenas com ações repressivas, como geralmente acontece. De acordo com a polícia, os policiais envolvidos no projeto interagirão mais com a comunidade, buscando soluções conjuntas para o enfrentamento da violência. 

Mas será que só isso basta? Obvio que não, pois são ações pontuais, limitadas a uma determinada região. E os outros bairros, como ficam? Cadê todo aquele aparato policial que tínhamos nas ruas no ano de 2009 e 2010, quando o governador lançou o Pacto Pela Vida. Pergunto ainda: cadê ações sociais, de qualificação profissional e geração de renda realmente eficientes? Além disso, hoje temos uma cidade sem infraestrutura, sem ruas, sem saneamento, que marginaliza mais da metade da população. Como um carro de polícia pode atender uma comunidade onde as ruas estão cheias de lama, ou pior, onde as vezes sequer existem ruas? Tal condição urbanística, é claro, só favorece os traficantes e marginais. 

Está mais do que na hora do município deixar de governar para poucos e pensar na maioria. Duas realidade de Jaboatão que me chocam (além da falta de infraestrutura) é o nível educacional e de renda da população. De acordo com o último Censo do IBGE, 38% da população é analfabeta ou possui ensino fundamental incompleto. Dá para acreditar? E todos nós sabemos que a pobreza e as desigualdades gera violência.

E esta falta de educação básica reflete também na distribuição de renda dos jaboatonenses. Na nossa cidade, mais de 191 mil pessoas vivem sem rendimento e outras 181 mil com apenas 1 salário mínimo. Esta cifra representa quase metade da populão vivendo ma pobreza extrema e miséria. Números, no mínimo contraditórios, quando este mesmo Jaboatão da pobreza, possui também o 10º maior PIB do Nordeste. 

São por estes e outros argumentos que posso fundamentar com convicção que o Programa Polícia Amiga será inútil se não tivermos  o comprometimento dos governos municipal e Estadual no enfrentamento real das desigualdades sociais. Enfrentamento este não apenas colocando mais polícia nas ruas ou gerando alguns empregos de baixa qualificação (como hoje acontece), mas investindo em educação de qualidade, em formação profissional e igualando a infraestrutura dos moradores das periferias aos da beira mar, pois uma cidade com infraestrutura precária, onde se cria uma cortina de divisão histórica entre pobres e ricos,  nunca se desenvolve. 

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