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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sem infraestrutura adequada, bairros da zona sul de Jaboatão não estão preparados para receber novos moradores

Sem ruas pavimentadas, rede coletora e de tratamento de esgoto, bairros de Piedade e Candeias crescem sem planejamento urbano adequado

Sem infraestrutura adequada como ruas pavimentadas, esgoto e transporte público suficientes, a zona sul de Jaboatão receberá milhares de novos moradores nos próximos meses. Apenas com a inauguração dos conjuntos habitacionais Piedade Life e Praia de Piedade, prevista para este ano, estima-se que a localidade tenha um aumento de moradores em mais de 15 mil pessoas. 

Construídos pela iniciativa privada e financiados pelo programa do Governo Federal "Minha Casa Minha Vida",  esses habitacionais são direcionados à classe média e estão localizados no limite entre os bairros de Candeias e Piedade. As obras dos habitacionais começaram  há pouco mais de 3 anos, estão bem avançadas e algumas unidades já começaram a ser entregues. 

Mas a rapidez da iniciativa privada não é a mesma do poder público e várias obras de infraestrutura prometidas na localidade sequer saíram do papel, comprometendo a qualidade de vida dos antigos e dos novos moradores. 

A ampliação da Rua Aniceto Varejão até a Lagoa Olho D'água é um dessas obras que ficou apenas na promessa, o que demonstra claramente a dificuldade do poder público em acompanhar a demanda por novas moradias e o consequente crescimento das cidades.  

Localizada ao lado dos gigantescos residenciais Piedade Life e Praia de Piedadea rua Aniceto Varejão se liga a Av. Bernardo Vieira de Melo e seria o acesso principal a esses condomínios. Inclusive, muitos proprietários compraram os imóveis com a promessa das construtoras de que a Aniceto Verejão seria contemplada com obras. Em 2010, a própria prefeitura de Jaboatão prometeu publicamente obras de requalificação da rua, com o revestimento do canal e continuação da via até a lagoa Olho D'água, o que não aconteceu até hoje. Atualmente, no lugar da rua  existem habitações irregulares, além de um canal sujo e abandonado.


A partir deste trecho (final da rua) a Rua Aniceto Varejão é bloqueada por moradias irregulares. Logo em seguida, um canal se estende por onde deveria ser a rua
Mas os problemas de infraestrutura não se limitam apenas a Rua Aniceto Varejão. Na localidade onde os condomínios estão sendo erguidos não existe coleta ou tratamento de esgoto, a oferta de transporte público está saturada e a maior parte das ruas não são pavimentadas - "A prefeitura de Jaboatão começou a pavimentação de duas ruas no ano passado, antes da eleição. Apenas uma foi terminada, mas a Rua Aracatú está inacabada, com muita poeira e buracos" - reclama o morador Francisco Oliveira. 

As barreiras sociais e  de mobilidade entre o Espinhaço da Gata e as novas habitações


Parte abandonada da R. Aniceto Varejão. Canal e muros dividem comunidade dos novos condomínios.  Projeto foi aprovado sem contemplar vias públicas 
Caminhando na parte abandonada da Rua Aniceto Varejão é possível constatar como Jaboatão está crescendo de forma mal planejada e excludente. De um lado, os novos habitacionais com toda infraestrutura, enquanto do outro, a antiga comunidade do "Espinhaço da Gata". 

Existente há quase 30 anos, o Espinhaço da Gata cresceu às margens do bairro de Piedade e nunca viu o progresso chegar. Ruas sem pavimentação e esgoto a céu aberto fazem parte da rotina da comunidade. Água encanada só chegou oficialmente no ano passado. Outrora, os moradores se viravam com ligações clandestinas.

Os limites que dividem o Espinhaço da Gata dos novos habitacionais está demarcado por um canal sujo e improvisado. A alvenaria chegou apenas na margem do condomínio. O outro lado do canal continua na terra, num nível topográfico bem mais baixo e suscetível a futuros alagamentos. 

Além dos problemas de infraestrutura, a aprovação dos novos empreendimentos imobiliários criou barreiras sociais e na mobilidade de Jaboatão. Os terrenos onde foram construídos os habitacionais são totalmente murados e juntos possuem quase 70 mil metros quadrados, uma área correspondente a quase 10 estádios de futebol. São quadras e mais quadras fechadas, sem nenhuma rua de acesso  público cruzando as dezenas de prédios.  As 7 ruas que deveriam se estender da Rua Aniceto Varejão por dentro do empreendimento até a Rua Jangadeiro foram bloqueadas, isolando os antigos dos novos moradores e prejudicando a mobilidade da cidade. 


Maria José mora no Espinhaço da Gata
Maria José é dona de casa e uma das moradoras do Espinhaço da Gata. Desolada, ela vê o crescimento dos condomínios fechados, mas nenhuma melhoria na sua comunidade - "Faz 30 anos que moro aqui e nunca vi nenhuma melhoria. Seria muito bom que a prefeitura abrisse a Rua Aniceto Varejão e beneficiasse a nossa comunidade também. Essa obra traria o progresso e mais movimento para a nossa comunidade" - desabafa

Seta verde localiza o terreno onde os habitacionais estão sendo construídos. Você pode navegar pelo mapa e pelo Google Street  View para conhecer melhor a região. Vale lembrar que os conjuntos ainda não aparecem totalmente no terreno, pois a imagem captada pelo google já tem mais de 3 anos. 


Ver mapa maior

Em explicação ao nosso blog no ano passado, a prefeitura de Jaboatão informou que as obras na Rua Aniceto Varejão não começaram conforme o prometido porque a obra seria financiada pelo governo federal, mas em virtude dos cortes orçamentários, a prefeitura ficou sem os recursos necessários para tocar o projeto. A prefeitura não soube dizer quando a obra na Aniceto Varejão deve começar. Com relação as obras paralisadas na rua Aracatu, também não foi dado um prazo de quando a obra será retomada. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

10 razões pelas quais Jaboatão não tem motivos para comemorar a semana do meio ambiente


Esta é a semana mundial do meio ambiente, mas infelizmente Jaboatão não tem muitos motivos para comemorar. Com políticas ambientais quase inexistentes, o município continua reprovado quando o assunto é preservação. Nosso blog preparou uma postagem mostrando as 10 razões pelas quais Jaboatão não tem motivos para comemorar este dia tão importante. Vamos conferir?

1. Maior lagoa do Brasil abandonada - apesar da maior lagoa  de formação de restinga em área urbana do Brasil, a Lagoa Olho D'água, estar localizada em Jaboatão, o município não sabe valorizar o título e importância econômica e socioambiental da lagoa. Há décadas a lagoa Olho D'água está degradada, assoreada e sendo destruída aos poucos. A consequência mais visível desta devastação pode ser sentida principalmente durante o inverno, quando a lagoa transborda em virtude do assoreamento e alaga toda zona sul de Jaboatão, deixando milhares desabrigados ou em situação de risco.


2. Sem saneamento - você que acompanha o blog já sabe que Jaboatão é a 9ª pior cidade em saneamento do Brasil, de acordo com estudos divulgados em 2011 pelo Instituto Trata Brasil. Hoje, nosso município possui apenas 1,7%  do seu esgoto tratado. Outro dado alarmante é que mais de 160 mil pessoas no município ainda vivem sem água encanada. Com números tão mesquinhos no setor de saneamento, Jaboatão caminha na contramão quando o quesito é preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente.


3. Milhões de litros de esgoto - só para se ter uma ideia do impacto que a falta de saneamento causa no meio ambiente, apenas a Lagoa Olho D'água recebe de 35 a 45 milhões de litros de esgoto todos os dias, um problema sério que precisa ser enfrentado de vez por nossos governantes.  

4. Faltam guardas ambientais e equipamentos - muita gente não sabe, mas Jaboatão possui apenas 16 guardas ambientais, que trabalham em esquema de reversamento. A quantidade é insuficiente e seriam necessários, no mínimo 60, para dar conta da fiscalização no município. Outro problema é a falta de equipamentos. Hoje a secretaria municipal de meio ambiente possui apenas 1 viatura para a fiscalização de todo território municipal.


5. Falta de planejamento urbano e problema de habitação - durante décadas Jaboatão cresceu sem qualquer planejamento urbano. Sem fiscalização, vários locais que não deveriam ser habitados foram invadidos com o decorrer dos anos. Hoje, de acordo com o IBGE, 33% da população de Jaboatão vive em favelas. Isso corresponde a 225.550 mil pessoas vivendo nas margens dos rios, lagoas, canais, em áreas de risco ou que deveriam ser de preservação ambiental. Outro dado alarmante é a quantidade de funcionários que deveriam fiscalizar e evitar novas ocupações irregulares: são menos de 20 funcionários  para monitorar todo município, o que contribui cada vez mais para a invasão de novas áreas e com a degradação do meio ambiente. 


6. Um rio esquecido - outro grande problema ambiental do município é o Rio Jaboatão. Totalmente poluído, o rio teve suas margens ocupadas de forma irregular com o passar dos anos. Hoje o rio Jaboatão recebe todo o esgoto da parte antiga da cidade, que acaba desembocando no mar sem qualquer tratamento. O rio também está assoreado e alguns trechos está cheio de lixo e entulhos jogados pela população menos consciente.

7. Desmatamento e queimadas - com quase 1/3 da população vivendo em favelas, as árvores e vegetações típicas de cada região também não são poupadas.  Hoje os moradores fazem o que querem e árvores são cortadas nas ruas sem qualquer punição, inclusive pela própria prefeitura, durante a execução de obras de ampliação de ruas.  Plantios para repor essas árvores e recuperar áreas degradadas até existem, mas não na mesma velocidade da degradação. A população mais consciente, muitas vezes, acaba contribuindo e, na ausência do Estado, plantam mudas e tentam amenizar os impactos provocados pela falta de políticas ambientais. 


8. Faltam campanhas educativas - outro problema em Jaboatão é a falta de campanhas educativas. Apesar de existirem algumas campanhas nas escolas, a população no geral não tem acesso a informações que auxiliem a preservação do meio ambiente. Sem informação ou incentivo do poder público, as pessoas jogam lixo em qualquer lugar, esgoto nas ruas, matam animais, cortam e queimam nossa vegetação. Está na hora dos nossos governos, em todas as esferas, começarem a investir mais em campanhas educativas, não só nas escolas, mas na TV, jornais, internet, etc. 

9. Orla poluída -  apesar de ser o único espaço de lazer democrático de Jaboatão, a orla de Jaboatão sofre com o avanço do mar e com o lixo. O avanço do mar parece que será resolvido em breve, com a prometida obra de engorda. Já o lixo jogado pelos frequentadores, o problema parece estar longe de ser resolvido. Todo final de tarde é mesma coisa: a praia fica imunda e é necessária uma faxina para que no outro dia este importante espaço público seja novamente utilizado. Será que não está na hora da prefeitura começar uma campanha educacional mais intensiva para que o povo não jogue lixo em qualquer lugar?


10. O problema do lixo - a coleta seletiva em Jaboatão já existe, mas infelizmente cobre uma parcela mínima da população. Hoje a coleta seletiva cobre apenas alguns prédios da orla. No restante da cidade faltam opções de coleta seletiva e a população não tem como destinar o lixo reciclável aos locais corretos. Como em muitas ruas de Jaboatão sequer existe pavimentação, a dificuldade de acesso impede, inclusive, a coleta normal. Resultado: em muitos pontos da cidade o lixo se acumula nas ruas, trazendo problemas de saúde e causando prejuízos ao meio ambiente. 


E você que acompanha o blog, concorda com os pontos descritos neste post? Conhece algum desrespeito ao meio ambiente em Jaboatão? Gostaria de fazer sugestões de como o município pode melhorar a preservação do meio ambiente? Deixe seu comentário! Agora você pode comentar com seu perfil do Facebook, Orkut, Gmail, Yahoo, entre outros. Participe! Clique no campo COMENTÁRIOS logo abaixo deste post e deixe sua opinião.








quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Paris é do pedestre e do ciclista, Jaboatão não...

Saiba como Jaboatão poderia implantar ciclovias de custo baixo, seguindo exemplo de países como a França
Imagem: ciclovia sinalizada na Ponte Alexandre III, em Paris

Nesta minha passagem pela europa, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o investimento do poder público em transporte público e prioridade ao pedestre e ciclista. Enquanto no Brasil continuamos com a velha ideia de priorizar a construção de grandes avenidas, dando prioridade aos carros e ônibus, no velho continente este raciocínio já foi engavetado há algumas décadas.

Em Paris, por exemplo, existe um organizado e bem articulado sistema de transporte coletivo, que engloba metrô, ônibus e até mesmo bicicletas. As mais de 14 mil bicicletas públicas existentes em Paris, chamadas de Vélib, podem ser alugadas o dia inteiro por apenas 1 euro. Com elas, você pode se locomover através de ciclovias por toda região metropolitana. Atualmente, Paris possui quase 400km de ciclovias, todas devidamente sinalizadas e interligadas às principais ruas, avenidas e bairros da cidade.

 Uma das centenas de estações de bicicletas públicas de Paris

E se você está pensando que é preciso alto investimento para construir toda esta quilometragem de ciclovia, fique sabendo que não. A prefeitura de Paris vem tendo idéias criativas e de baixo custo, que poderiam dar muito certo em cidades como a nossa, Jaboatão dos Guararapes. 

Entenda:

Aqui em Paris, a prioridade não é dos carros, como estamos acostumados aí no Brasil. Então o que a prefeitura fez para dar espaço as bicicletas? Simplesmente acabou com as vagas de estacionamento nas laterais das principais ruas e avenidas e, no lugar das vagas antes destinadas aos carros, pintou e sinalizou faixas de ciclovias. Quem quiser estacionar seu carro, tem que ter procurar uma vaga em ruas menos movimentadas. Aqui não existe a mordomia de parar o carro em frente do restaurante, padaria ou loja que você está acostumado a frequentar. A cidade é do pedestre, não dos veículos.

O modelo de ciclovias adotado aqui de Paris poderia ser facilmente copiado por Jaboatão. Hoje nosso município possui apenas 800 metros de coclovia, localizada na Av. Beira Mar, da Igrejinha de Piedade até pouco antes do Hospital da Aeronáutica. Esta malha cicloviária poderia ser multiplicada na zona sul se a prefeitura de Jaboatão acabasse com a faixa esquerda de estacionamento na Av. Bernardo Vieira de Melo e sinalizasse uma ciclovia no local. Seria o início de uma ação que poderia se estender as principais vias do município.

Hoje, a faixa esquerda da referida avenida não funciona para o trânsito, mas para estacionamento de veículos privados, que muitas vezes cometem infrações de trânsito, como estacionar nas calçadas e em fila dupla. Caso Jaboatão acate a sugestão, o município poderia interligar sua ciclovia com a existente nas praias do Paiva e Boa Viagem, aumentando sua malha cicloviária em aproximadamente 6,5 quilômetros, sem gastar muito, já que a obra se resume a pintar e sinalizar uma estreita faixa para ciclistas.

A ideia de acabar com o estacionamento na faixa esquerda da Av. Bernardo Vieira de Melo foi bem aceita por alguns internautas quando divulguei através do Twitter. O prefeito Elias Gomes e sua equipe, que estavam on line no momento em que discutíamos o assunto, respondeu afirmando que vai encaminhar a sugestão para a secretaria responsável. Já a assessoria de imprensa de Jaboatão, informou que toda a Av. Bernardo Vieira de Melo será requalificada, mas não disse se ciclovias serão implantadas no local. Disse ainda que uma nova ciclovia será implantada até o ano que vem num trecho da Avenida Ayrton Sena, em Piedade. 

Já é um bom começo! Vamos agora torcer para, quem sabe, a ciclovia da Av. Bernardo Vieira de Melo, que é de baixo custo e poderia ajudar na locomoção da população, se transformar em realidade. As bicicletas públicas de Paris ainda estão distantes da nossa realidade, mas bem que nós poderíamos já começar construindo as ciclovias, né?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Opinião: Reflexos de Suape para Jaboatão dos Guararapes


Por Luiz Carlos Matos

O Complexo Industrial portuário de Suape, situado na Nucleação Sul da Região Metropolitana do Recife, firma-se em terras dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. 

Sua concepção foi definida na segunda metade da década de 70, tendo recebido, ao longo dos últimos trinta anos, investimentos de sucessivos governos estaduais. Não obstante todo esse tempo de existência, na última década, via grandes investimentos governamentais e privados, é que sua operacionalização tem se consolidado. Dentre as mais 90 empresas instaladas, destacam-se o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima e o Pólo Petroquímico, que têm uma significativa repercussão econômica, não só nos municípios onde o complexo está inserido, como também nos seus arredores.

Em vista disso, foi concebido o TERRITÓRIO ESTRATÉGICO DE SUAPE, compreendendo os seguintes municípios: Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, JABOATÃO DOS GURARAPES, Moreno e Escada. Os dois primeiros são considerados territórios de influência direta; os demais, de influência indireta.

O município de Jaboatão dos Guararapes, mesmo considerado de influência indireta, pode ser entendido como um pólo privilegiado no contexto do Território Estratégico de Suape. A proximidade geográfica com o porto, sua malha viária, a oferta de bens de serviço e comércio e sua delimitação, ao norte, com a capital do Estado, são fatores determinantes para colocá-lo num patamar especial.

O reflexo deste cenário será, a curto prazo, a busca no território jaboatonense de novas moradias, de mão-de-obra qualificada, de fornecedores de materiais e equipamentos, implantação de novos empreendimentos e oportunidades de negócios.

A lei da “oferta e procura” está na ordem do dia. Sente-se , atualmente, uma clara e crescente busca dos imóveis na área costeira de Piedade e Candeias. A valorização dos terrenos lindeiros da BR-101 Sul já é um fato. A aprovação, pelo governo federal, para a implantação do nada mais é do que um reflexo das atividades portuárias. Além do mais, a empregabilidade do trabalhador de Jaboatão teve um elevado nível, em função dos programas estaduais de capacitação, realizados pelo Promimp.

Em paralelo, ações do governo estadual, visando a fortalecer a infraestrutura de SUAPE, têm tido reflexos diretos no próprio tecido urbano do município, com destaque para: melhoria de capacidade da Estrada da Batalha, implantação do sistema viário do Projeto Paiva, funcionamento da Escola Técnica Estadual e a ampliação do sistema de abastecimento d’água do Pirapama.

Não obstante enxergarmos reflexos positivos de Suape, é importante salientar que esses são mais sentidos na faixa costeira do município de Jaboatão dos Guararapes. Ou seja, seu interior fica cada vez mais distante de um processo de desenvolvimento tão desejado.

É fato, por exemplo, a ausência de investimentos públicos e conseqüente forte empobrecimento do Distrito de Jaboatão Centro. Distrito rico em história, em tradição, berço das grandes discussões políticas municipais, atualmente, encontra-se num processo de isolamento das ações voltadas para um desenvolvimento sustentável. É imprescindível que atitudes sejam tomadas agora, para que Jaboatão Centro não perca o “andar da carruagem”.

O governo do Estado, por intermédio do Projeto Suape Global, vem estimulando os municípios situados no seu território estratégico a implantarem suas próprias ações de desenvolvimento, visando a atender a demanda gerada pela cadeia produtiva, resultante dos empreendimentos existentes e que estão por vir. É uma oportunidade ímpar para que as autoridades municipais ajam. As orientações técnicas já estão descritas no próprio Plano Diretor Municipal, em que fica determinada a implantação da “Macrozona Especial de Desenvolvimento Produtivo”, ao longo da rodovia Eixo de Integração, onde deverá ser incentivado o uso industrial de pequeno e médio porte e de serviços de apoio à produção, procurando priorizar investimentos geradores de um maior número de emprego possível. A desapropriação de terras, pelo poder público municipal, é de fundamental importância. A interiorização do desenvolvimento é necessária. Outros municípios o fizeram. Jaboatão não pode parar.

Luiz Carlos Matos 

Foi Vice-Prefeito e presidente da Câmara de Jaboatão dos Guararapes. Atualmente, é Presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Ipojuca.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jaboatão: uma cidade sem saídas

Ruas obstruídas por invasões são um problema antigo do município, que atrapalha a mobilidade e promove desigualdades sociais

 Na Rua Jangadeiro, em Candeias, onde deveria ser a continuação da rua existe uma borracharia.
Por trás, centenas de ocupações irregulares
 .
Andar nas ruas de Jaboatão não é tarefa fácil. Além da falta de infraestrutura e esgoto a céu aberto, os moradores  precisam conviver com outra dura realidade: ruas sem saída, que foram obstruídas por construções irregulares.

As invasões e obstruções de ruas em Jaboatão são um problema antigo. Sem fiscalização, esse tipo de ação vem crescendo no município e se tornando um grave problema social e de mobilidade  urbana.

No Bairro de Candeias, duas ruas principais são um exemplo clássico de como uma rua é invadida sem que o poder público intervenha. As ruas Aniceto Varejão e  Jangadeiro são interrompidas praticamente na metade. Onde deveria ser rua, casas foram construídas, atrapalhando a continuação das vias.

A manicure Ana Paula conhece bem este problema.  Ela mora na Rua Joaquim Marques de Jesus, em Piedade, outra rua sem saída. A referida Rua tem início na Av. Bernardo Vieira de Melo e deveria seguir até a Lagoa Olho D'água, mas  é interrompida por invasões 300 metros após seu início - "Essa situação é horrível. As pessoas estão invadindo o espaço publico. A solução depende da prefeitura, que não faz nada". Esta cidade é uma bagunça - reclama. 

 Lagoa Olho D'água sem acesso

Imagine morar num lugar sem infraestrutura e com difícil acesso. Esta é a situação de mais de 100 mil pessoas que vivem nas proximidades da Lagoa Olho D'água. Até mesmo quem vivem em loteamentos regulamentados pela prefeitura enfrenta este problema.

O advogado Talvanes Cavalcante, mora no Loteamento Parque Lagoa Olho D'água, em Piedade,  há 8 anos. Está em situação regular e acha um descaso a falta de acesso a sua residência - "Não ter acessos decentes é terrível. Atrapalha bastante a minha vida. Para chegar em casa preciso passar por ruas precárias e alagadas. Deixo de fazer muitas coisas porque não tenho condições de colocar meu carro dentro desses buracos com tanta freqüência. Se a prefeitura abrisse a Rua Aniceto Varejão seria excelente para todos daqui" - sugere. 

Em situação parecida vive a cabeleireira Rosinha. Ela também mora em uma rua sem saída, a Rua Iguatemi, em Candeias, bem perto ao Conjunto Habitacional Dom Hélder - "Minha rua deveria ter ligação com o Conjunto Dom Hélder, mas foi invadida. A passagem se resume a 2 becos. Acho essa situação muito ruim, pois minha casa ficou desvalorizada. Para entrar com o carro, tenho que passar pelo que sobrou da Rua Jangadeiro, que também foi invadida, logo na entrada do Dom Hélder" - reclama. 

A arquiteta urbanista, Bárbara Tenório, explica que é difícil desenvolver algumas regiões se não existir acessos que possibilitem a mobilidade da população - "Essa situação favorece a desigualdade entre as regiões, acentuado as diferenças sociais" - explica.


A prefeitura de Jaboatão reconhece que o problema de invasão de ruas é antigo. No caso da Lagoa Olho D'água, já foram anunciadas algumas ações para melhorar a acessibilidade. A prefeitura promete que até julho deste ano estará iniciando as obras para abertura da Rua Aniceto Varejão até a lagoa.





1- Rua Governador Miguel Arraes - deveria seguir margeando a lagoa, mas foi obstruída por uma invasão, na margem da lagoa.


2 - Rua Joaquim Marques de Jesus - está obstruída por construções irregulares. Seu traçado regular termina pouco depois da Av. Ayrton Senna;


3 - Rua Aniceto Varejão - deveria ser um principal acesso a Lagoa Olho D'água, mas foi obstruída por residências irregulares. Onde deveria ser a continuação da rua, existe também um canal;


4 - Rui Jangadeiro - também deveria seguir até a Lagoa Olho D'água, mas foi interrompida na altura do Conjunto Dom Hélder.


5 - Rua João Fragoso de Medeiros - deveria ser o principal acesso direto ao Dom Hélder, mas foi interrompida. No lugar onde deveria ser a rua, hoje existe a comunidade das Carolinas;


6 - Rua Aníbal Ribeiro Varejão - também foi interrompida pela comunidade das Carolinas.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bairros da Zona Sul de Jaboatão são áreas endêmicas com alto risco de contaminação por filariose

Quanto mais afastados dos grandes corredores, maiores são os problemas dos bairros da zona sul de Jaboatão. Falta de saneamento, esgoto a céu aberto e água empoçada já fazem parte do cotidiano da população. Mesmo se você evitar contato com a sujeita, o perigo pode aparecer de forma praticamente invisível, através dos ares. Você pode não desconfiar, mas uma simples picada de mosquito, pode trazer sérias conseqüências à sua saúde. Fique atento: a zona sul de Jaboatão é área endêmica, com alto risco de contaminação por filariose.

A filariose é uma doença séria, provocada por picada de inseto. É popularmente conhecida pelo nome de elefantíase, isso porque, assim que a doença evolui, pernas e braços incham, ganhando proporções enormes, prejudicando a circulação sanguínea e trazendo problemas graves à saúde.

Quando o mosquito infectado pica o homem, deposita as larvas na corrente sanguínea. Os sintomas demoram a aparecer, de um a alguns meses. Se diagnosticada no início, é possível se currar completamente, evitando que os membros inchem. Caso não for diagnosticada em estágio inicial, a doença não tem cura, apenas tratamento. Neste caso, o inchaço dos membros será inevitável e irreversível. 

BAIRROS DA ZONA SUL DE JABOATÃO SÃO CONSIDERADOS ÁREAS ENDÊMICAS

Vários bairros da zona sul de Jaboatão, como os de Piedade, Candeias, Dom Hélder, Jardim Piedade, Barra de Jangada, Lagoa das Garças, Sotave, entre outros, são considerados endêmicos, pois apresentam risco constante de contaminação por filariose. Quanto menos urbanizada a área e menor a infra-estrutura, maior o risco. 

As comunidades mais próximas a Lagoa Olho D'água, que possuem canais ou áreas alagadas, são as mais perigosas, pois a falta de infra-estrutura faz o número de insetos aumentar. 

COMO PREVENIR?

A melhor forma de prevenção é evitar picadas de insetos. Mas nem sempre é possível, principalmente quem vive em áreas endêmicas e com muito mosquito, como em diversas comunidades da zona sul de Jaboatão. A dica então é fazer o exame de filariose pelo menos uma vez por ano (ideal é uma vez a cada 6 meses). 

O exame é simples e gratuito. Com uma simples furada no dedo, é retirado um pouco de sangue (gotas), que segue para análise em laboratório. Mas atenção, o exame só pode ser feito após às 22h00, horário que as larvas da doenças aparecem na corrente sanguínea. 

ONDE FAZER O EXAME E BUSCAR TRATAMENTO

A prefeitura de Jaboatão não faz muito alarme, mas eles sabem do problema e fazem um trabalho de prevenção, visitando as comunidades e realizando os exames. Eu faço este exame todos os anos gratuitamente, pela rede pública. Ontem eu fiz novamente, aqui perto da lagoa, numa ação da Secretaria se Saúde de Jaboatão. Para solicitar o exame de filariose, entre em contato com a secretaria municipal de saúde que eles vão na sua comunidade. 

Outra forma de fazer o exame é se dirigir ao Hospital Geral de Prazeres. Lá o teste é feito gratuitamente todos os dias, a partir das 22h30. Lembre-se que a filiariose tem cura se diagnosticada no início. E para nós que moramos em área de risco,  a  melhor forma de prevenir é através da análise do sangue, que vai identificar a doença antes ela evolua, possibilitando a cura. 

Em caso de diagnostico positivo de filariose, todo tratamento é feito com prioridade e de forma gratuita pela rede municipal de saúde. Previna-se!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os desafios do crescimento imobiliário na zona sul de Jaboatão

 Por Herbert Fernandes

 Imagem: Blog Conjunto Residencial Piedade Life
O setor imobiliário está em alta na zona sul de Jaboatão. Este crescimento não era visto desde a década de 1980, quando muitas construtoras deixaram de empreender no município por falta de investimentos do poder público em infra-estrutura básica.  Hoje, o mercado parece estar querendo recuperar o tempo perdido e dezenas de novos empreendimentos começam a mudar a cara e a rotina da cidade. 

Voltados principalmente para a nova classe média, que impulsionada pelo aquecimento da economia e facilidade de crédito começa a realizar o sonho da casa própria, os conjuntos habitacionais gigantescos hoje compõem grande parte dos investimentos do setor imobiliário em Jaboatão dos Guararapes,  principalmente nos bairros de Piedade e Candeias.  

Esses bairros são os mais valorizados pelas construtoras e por esse novo público, principalmente por estarem localizados em território estratégico,  do chamado "Eixo Vetor do Desenvolvimento". São bairros próximos  da capital Recife e ao mesmo tempo do polo industrial de Suape. Além disso,  já possuem certa infra-estrutura, considerada boa quando comparada a de  outros bairros em municípios vizinhos. 

Outro fator apontado pelos especialistas como atrativo aos bairros de Piedade e Candeias é a disponibilidade de  terrenos para novas construções, principalmente na parte oeste, nas proximidades da Lagoa Olho D'água. Além disso, o acesso à Suape através da Ponte do Paiva (encurtando o caminho em até 10 quimômetros), tem sido bastante valorizado na hora de escolher a zona sul de Jaboatão como local da nova residência.

De acordo com a arquiteta Bárbara Tenório, especialista na área planejamento urbano, não existe mais espaço para novas construções na zona sul de Recife, por exemplo. Ela explica que as pessoas estão migrando para áreas alternativas como Jaboatão - "As pessoas que buscam oportunidades geradas por Suape, ou que já trabalham no polo industrial, estão começando a se instalar em Piedade e Candeias. Esses bairros, além de muito próximos da capital Recife e  de Suape, ainda tem como atrativo a infra-estrutura como shoppings, supermercados, praias, hospitais, etc. Tudo que uma pessoa busca numa cidade grande esses bairros já oferecem"


De acordo com dados divulgados pela Caixa Econômica Federal este ano, o programa de incentivo ao financiamento imobiliário do Governo Federal, o "Minha Casa, Minha Vida", pretende investir R$315, 67 milhões em habitação em Pernambuco. A previsão é construir mais de 44 mil moradias no Estado até o final de 2010.

E Jaboatão pretende abocanhar boa parte dessas moradias e investimentos. Só a construtora Tenda, uma das que mais investem no município, já contabiliza dois conjuntos habitacionais construídos na zona sul. Outros dois também também estão sendo erguidos nos bairros de Piedade e Candeias, com previsão de conclusão até 2012.


Os desafios do saneamento em Jaboatão



Embora o setor imobiliário esteja em crescimento, a falta de infra-estrutura básica, como ruas pavimentadas e coleta e tratamento de esgoto, será o grande desafio de Jaboatão nos próximos anos. Um estudo divulgado este ano pelo Instituto Trata Brasil, colocou o município no 6º lugar do ranking entre as 10 cidades com o pior saneamento do Brasil.


De acordo com a pesquisa, apenas 8% do esgoto de Jaboatão é coletado e tratado. Os dados foram divulgados a partir de informações reunidas do Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento (SNIS), divulgado anualmente pelo Ministério das Cidades. 

A arquiteta Bárbara Tenório, explicou para o nosso blog que esses índices dificultam bastante maiores investimentos imobiliários no município - "Muitas construtoras podem ter projetos recusados pela Caixa Econômica Federal, por exemplo, pois é necessário ter infra-estrutura mínima nos lugares onde serão construídos esses novos empreendimentos" - explica. 

Recentemente, algumas construtoras desistiram de comprar enormes terrenos nas proximidades da Lagoa Olho D'água, justamente pela falta de infra-estrutura básica. E isso significa menos emprego e menos investimentos em Jaboatão.  As construtoras estão optando por terrenos próximos a áreas  já populosas, onde haja, pelo menos, uma rua principal de acesso pavimentada. Como nem sempre é possível fazer o trabalho que seria obrigação da prefeitura, as construtoras pavimentam algumas ruas que dão acesso à suas construções, sem fazer o serviço de drenagem necessário. O resultado da falta de drenagem  serão sentidos no inverno, com a intensificação dos alagamentos, que já assolam a zona sul de Jaboatão. 


Bárbara acredita que o melhor caminho para vencer o obstáculo da falta de infra-estrutura é o diálogo entre construtoras e prefeitura - "O diálogo e a negociação é o melhor caminho. Não adianta a construtora fazer a pavimentação das vias que darão acesso a esses novos conjuntos habitacionais, sem investir na drenagem e no saneamento. Temos que lembrar que esses novos empreendimentos abrigarão milhares de pessoas e, caso não haja o saneamento adequado, para onde a água irá? Por outro lado, fica muito caro para as construtoras bancarem todos os custos. Por isso a prefeitura tem que participar e executar um plano estratégico para a região" - explica.


Outro desafio da drenagem da zona sul de Jaboatão está diretamente ligado ao assoreamento da Lagoa Olho D'água. Hoje a lagoa possui apenas 80cm de profundidade, não tendo capacidade de absolver todo o volume da água durante do inverno. Aliado a falta de infra-estrutura e saneamento, o assoreamento da lagoa também precisa ser enfrentado pelos governantes. Há cerca de 2 anos, existem investimentos que totalizam R$ 59 milhões para a urbanização da Lagoa Olho D'água, mas o governo do Estado ainda não desenvolveu o projeto. A nível municipal, não existe nenhum planejamento estratégico para a região da lagoa até o momento.


O desafio do transporte público e do trânsito


Com a chegada de novos moradores aos bairros de Piedade e Candeias, outras questões já começam a ser discutidas: o trânsito e o transporte público. Só no bairro de Piedade, nas proximidades do  antigo Conjunto Habitacional Dom Hélder (que já é muito populoso) existem mais 3 gigantescos empreendimentos imobiliários sendo construídos com a aprovação da prefeitura, numa área com infra-estrutura já comprometida. 


Quando estiverem prontos, estima-se que a população da área deva aumentar aproximadamente 25%, ou seja, teremos mais 12 mil habitantes numa região sem perspectivas atuais de desenvolvimento da infra-estrutura urbana. 


E esses novos moradores devem interferir na dinâmica do município não somente na questão do saneamento básico, mas também do transporte. Mais moradores significa maior demanda por transporte público e mais veículos particulares nas ruas. Se o trânsito em Jaboatão já é complexo, especialistas acreditam que, caso não haja investimentos em novas vias nos próximos anos, além da ampliação do transporte público, a zona sul de Jaboatão terá graves problemas de locomoção.

Existe um projeto do Governo do Estado para interligar a Av. Bernardo Viera de Melo (principal da zona sul de Jaboatão), a BR 101 sul. A nova via seria pela Av. Sebastião, em Jardim Piedade, cortando os bairros de Cajueiro Seco através de um viaduto e, por fim, chegando ao terminal integrado de passageiros do bairro. A obra é complexa porque precisaria de toda uma reestruturação urbana do local, que é extremamente populoso e desorganizado urbanisticamente. Apesar de importante e essencial para o desenvolvimento da zona sul de Jaboatão, este projeto ainda não tem previsão para ser executado.


Outra solução seria investir numa paralela, margeando a Lagoa Olho D'água, até a ponte do Paiva. Esta marginal poderia se interligar a futura via mangue (do Recife), a ponte do Paiva e a BR 101 sul,  desafogando o trânsito nas Avenidas Bernardo Vieira de Melo, Ayrton Senna e Presidente Castelo Branco. Além disso,  construção de vias de acesso na Lagoa Olho D'água, melhoraria a condição de vida de mais de 50 mil pessoas que hoje vivem mas margens da lagoa sem nenhuma infra-estrutura.


Especialistas defendem ainda a ampliação da linha sul do metrô e a construção de terminais integrados de passageiros nos bairros de Candeias e Piedade. Ciclovias também seriam bem vindas. 

Como podemos perceber,  a zona sul de Jaboatão tem enorme potencial econômico, turístico e imobiliário. Cabe agora aos nossos governantes valorizarem esse potencial e desenvolverem as estratégias necessárias para que a região possa crescer de forma planejada e organizada, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos antigos e dos futuros moradores.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Buenos Aires da Lagoa Olho D'água

Imagens: Eduardo Cordeiro


Cícera Maria - Líder Comunitária

Quando Cícera Maria chegou para morar em Buenos Aires (Candeias - Jaboatão dos Guararapes) havia apenas 3 casas dentro de terrenos alagadiços, nas margens da Lagoa Olho D'água. De lá pra cá, já se passaram mais de 26 anos. A população cresceu drásticamente e o número de moradias se multiplicou em milhares. Ela não sabe dizer exatamente quantos são. Ninguém sabe. Todo esse tempo a enorme Buenos Aires da Lagoa Olho D'água viveu ignorada.

A Comunidade de Buenos Aires está localizada no bairro de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, PE. Está por tráz do Conjunto Residencial Dom Hélder Câmara.

Sempre lutando por melhoras na comunidade que aprendeu a amar, Cícera Maria acabou se tornando líder comunitária. Sem auxílio de governos, essa incrível guerreira de 63 anos de idade, desenvolve um trabalho magnífico. As dificuldades são muitas, mas ela não desiste.

Com o pouco das doações que recebe, construiu a sede da associação de Buenos Aires, que abriga um núcleo de informática e creche. Com muito esforço conseguiu levar para a comunidade programas sociais como o Fome Zero, distribuição de leite para crianças subnutridas e Programa Brasil Alfabetizado. E não acaba por aqui. Cícera ainda dedica seu tempo auxiliando a justiça na ressocialização de menores infratores.


Associação de Moradores de Buenos Aires

Como a sede da associação é pequena e nem sempre dar para receber todo mundo, Cícera resolveu construir uma área de lazer na laje da sua residência. É na sua casa, junto com sua família, que ela tenta recuperar esses menores infratores. Mas que uma simples monitora, essa célebre mulher se tornou mãe para esses menores. "Esses meninos chegam aqui e percebo que muitos têm um coração bom. Não são criminosos. Eles têm recuperação. Tudo que precisam é de atenção. Muitos não têm isso nas suas famílias. É isso que tento fazer por eles. Minha alegria é vê-los recuperados" - afirma radiante.

Cícera Maria é o verdadeiro exemplo de cidadã que faz a diferença. Parabéns!

BUENOS AIRES, COMUNIDADE ABANDONADA

Andar por Buenos Aires não é nada fácil: buracos, esgoto a céu aberto, lixo, mato e pessoas. Pessoas que sofrem e reclamam da falta de infra-estrutura do lugar. A moradora Talita Cunha é uma delas. Sua casa fica bem perto a um terreno baldio, atualmente abarrotado de lixo e ratos. Segundo os moradores, o prefeito Elias Gomes prometeu construir uma creche no referido terreno enquanto fazia campanha eleitoral. "Elias prometeu construir uma creche aqui nesse terreno. Mas até agora não fez nada. Aqui não existe nenhuma área de lazer e a creche da associação já é pequena para a quantidade de crianças" - reclama Talita.

Os moradores reclamam que o prefeito Elias Gomes prometeu construir uma creche nesse terreno e não cumpriu.

Crianças não tem área de lazer

Os moradores reconhecem o esforço de Cícera na comunidade e reclamam que o Estado nada faz para auxiliá-la. "Cícera é mais que uma líder comunitária. É uma mãe aqui pra agente! Infelizmente o governo não ajuda ela em nada. A prefeitura nunca tem tempo para nos atender. Na eleição, o povo que estava fazendo campanha para Elias Gomes, disse que ele viria aqui na nossa rua. Mas ele nunca apareceu" - relata em tom de decepção Maria de Fátima, moradora da Rua Campina do Vento.

REVITALIZAÇÃO DA LAGOA OLHO D'ÁGUA: MORADORES DIVIDIDOS

Apesar de viverem num local sem a mínima infra-estrutura, a maior parte dos moradores não deseja sair do local. Eles concordam que lagoa precisa ser revitalizada, mas não aceitam sair para outro lugar. "Vivemos todo esse tempo aqui sem nada e agora que a lagoa vai ficar boa querem nos tirar. Vai ser uma separação enorme!" - desabafa Jacileide David.


Mas existem os que desejam sair. É o caso do do segurança Lindomar Gonçalves, de 40 anos. Cansado de viver nas margens da Lagoa Olho D'água, Lindomar não vê a hora de ser convocado para habitar um novo apartamento social do Estado. "Aqui é horrível! Quando chove alaga tudo. Tenho quatro filhos pequenos e eles precisam pisar na água suja para ir na escola. Já estiveram doentes diversas vezes por causa disso. Para pegar um ônibus temos que andar 20 minutos até o Conjunto Dom Hélder Câmara (em Piedade). Nem iluminação pública nós temos. Quando a noite cai temos que nos trancar em nossas casas, pois o local é muito perigoso" - relata Lindomar.

Outra Moradora que deseja sair é a dona de casa Djane Félis, de 41 anos. Morando numa pequena casa de tábua nas margens da lagoa, Djane também faz parte do time dos que desejam deixar o local. "Espero que esses apartamentos sejam logo construídos. Se deus quiser vão colocar agente num lugar melhor. Aqui só tem muriçocas e doenças moço" - reclamou.

Djane deseja sair da lagoa

OPORTUNISTAS VISAM INDENIZAÇÕES

Desde que a CEHAB (Companhia Estadual de Habitação) começou a cadastrar os moradores que serão retirados da faixa de proteção ambiental (100 metros da lagoa), muitos oportunistas começaram a aparecer. Em Buenos Aires não foi diferente.

Gente que tem casa e que nunca morou na região, se apressou em invadir um pedaço de terra e construir um barraco. Quando a CEHAB chega no local para fazer o cadastramento, essas pessoas fazem um verdadeiro teatro. Afirmam que moram no lugar há muitos anos, que vivem da pesca e muitas outras mentiras, com o intuito de receber a indenização.

Os moradores antigos denunciam que isso é muito freqüente e apresentam como solução que o cadastramento seja feito em parceria com as associações de moradores. Dessa forma é possível identificar quem realmente é morador antigo e quem são os oportunistas. Mas parece que o Estado não está querendo muito papo com as lideranças comunitárias...




sábado, 5 de setembro de 2009

O Outro Lado da Lagoa Olho D'água

Em tom de tristeza, seu Elsion desabafava: "Já não são tantas garças como antigamente" , enquanto andávamos pelas ruas esburacadas de Lagoa das Garças, comunidade localizada a oeste da lagoa, nas proximidades da BR 101 sul, em Jaboatão. Apesar do cenário de carência e abandono, os moradores não economizaram simpatia durante a visita do blog a comunidade. Lagoa das Graças é o típico local onde os políticos se aproveitam da bondade e ingenuidade do povo com promessas que nunca são cumpridas.



Conheci seu Elsion Alves, caminhoneiro aposentado, no IFórum de Revitalização da Lagoa Olho D'água, no final do mês passado. Trocamos telefone, marcamos uma data e seu Elsion fez questão de me mostrar o outro lado da lagoa, nunca antes mostrado aqui no blog por símples falta de oportunidade.

Nossa visita começou na entrada da comunidade, nas margens da BR 101 sul. Logo na entrada, os problemas já eram visíveis. Ruas esburacadas, cheias de lama e de lixo contrastavam com o sorriso das crianças que inocentemente faziam questão de serem fotografadas. No meio de tanto abandono era compreensível que elas necessitassem de atenção. Nunca imaginei que elas ficariam tão felizes em serem fotografadas...



Encontramos seu Elsion e seguimos de carro em direção a la
goa. Numa estreita rua resolvemos parar e lá estava a Lagoa Olho D'Água! Finalmente vista do oeste! Frágil e imponente, grandiosa e tão pequena na visão dos governantes.




Crianças brincavam satisfeitas na rua eslamaçada. O esgoto corria ao lado delas, seguindo fétido e contaminado até o espelho d'água escuro, onde pescadores se arriscava em busca da tilápia, único peixe existente nas águas poluídas da Lagoa Olho D'água. Conversamos com alguns deles, que disseram que antigamente a pesca era mais fácil. Reclamaram que muitos pescadores e moradores estão contaminados por esquistossomose, ameba e filariose. Quando perguntei porque eles se arriscam tanto, recebi como resposta "É a única alternativa que temos para sobreviver".


Seguimos adiante com dificuldade pelas ruas cheias de buracos. Flagramos um caminhão de coleta da prefeitura de Jaboatão carregado de lixo: "Eles fazem a coleta de vez em quando, mas não é suficiente como você está vendo" - disparou seu Elsion. E realmente não era. Em Lagoa das Garças o que não falta é gente simpática e lixo nas ruas. Em cada esquina lixo e mais lixo, buracos e mais buracos, esgoto e mais esgoto, sorrisos e mais sorrisos...



Passamos em frente ao posto de saúde da comunidade que, segundo os moradores, não tem nenhuma estrutura: "Faltam médicos e medicamentos. Aí dentro está tudo cheio de mato!" - reclamavam. "Os políticos só nos procuram na época das eleições. Depois eles esquecem que existimos" - reclamava seu Severino enquanto fotografávamos a buraqueira.


No final da tarde retornamos pela rua principal. Passamos pelo terminal de ônibus alternativo, único meio de trasnporte dos mais de 5.000 habitantes de Lagoa das Garças. A população voltava do trabalho para as suas casas. Em Lagoa das Graças quase ninguém acredita que um dia a revitalização da lagoa vá sair do papel. Mesmo assim percebi um pouco de esperança estampado em olhares desconfiados. Me despedir de seu Elsion e fui embora encantado com a energia positiva daquele povo, que mesmo com tantas dificuldades não hesita um sorriso.




Agracedimentos: Elsion Alves, William Bonnet, Marinete Duarte